Sob os pés (Cidade Livro)

No dia 22 de agosto fiz uma oficina chamada Cidade Livro no Sesc. O objetivo dessa oficina era fazer uma caminhada pela cidade e no último dia iríamos montar um livro, com textos, colagens, ilustrações ou fotos do grupo todo. 

A caminhada foi num sábado de manhã, a nossa sorte foi que estava sendo um dia nublado e frio, porque se fossemos andar no calor, a gente sofreria, o sol quente acaba com a gente. Nessa caminhada, tínhamos pontos, onde devíamos marcar as horas que estavam em trechos de textos que o Renato, o responsável pelo curso nos passou.  Depois desse dia surgiram vários textos e poesias do grupo e foram esses que fizeram o livro acontecer. Nos dois últimos dias de oficina, sentamos e começamos a montar, primeiro foram as montagens das páginas de cada um e cada participante tinha direito a 4 páginas. No último dia aprendemos a furar e costurar o livro, depois teve algumas intervenções e assinamos as cópias de todo mundo. Foram 5 dias de curso, 6 andarilhos, 8km de caminhada, 15 cópias, cada participante ficou com duas e o Sesc também recebeu cópias. 

Foi uma oficina sensacional, aprendi muita coisa e adorei como ficou o meu texto e as minhas páginas. O texto abaixo teve algumas correções, mas foram bem leves, não muda muito no que está no livro.

"Era uma 10:30, acho, não sei ao certo, quando começamos a caminhar. Andamos sob ciclovias, trilhos abandonados, ao lado de um rio sujo, mas que continha vida ainda, árvores, flores, matos, peixes e aves, até vimos um belo mergulhão, que mergulhou no momento exato em que um dos meus parceiros de caminhada tentou tirar fotos....Bem desculpes o devaneios!...Voltando a caminhada, passamos por casas antigas, que precisavam de alguns reparos, outras se tornavam ruínas e muitas tinham placas de vende-se ou aluga-se, viver no centro de uma cidade, pode ser perigoso e tudo que antes era um lar, se torna comércio, estacionamento ou uma clínica médica. Mas nessa caminhada toda o que mais me chama a atenção, na verdade sempre tive amores por coisas assim, sempre me pareceu algo misterioso, místico, as vezes até imaginava histórias, com drama, romances e a magia, essa última é o meu xodó, viver num mundo tão sem graça, onde não existem dragões, unicórnios, fadas ou outros seres fantásticos, é pura chatice....Ops!...Dessa vez o devaneio foi longe, me desculpem novamente!....O que mais me chamava a atenção é a natureza, é aqueles matos que nascem de uma rachadura da calçada, é das flores e do verde que domina as ruínas, aqueles lugares abandonados pelos humanos. Aquelas construções que um dia serviu para algo, agora jaz num túmulo magnífico engolido pela natureza. Eu acho incrível o como nós humanos a destruímos, mas basta uma rachadura, uma pequena mesmo, onde entra o sol, caia uma gota de água e “voi a lá”, nasce uma planta. E se ninguém interferir aos poucos, ela vai voltando a conquistar aquele lugar que um dia já era dela. A força de uma pequena planta, pode transformar tudo ao seu redor em várias outras. Nessa caminhada me apaixonei mais por cenários assim, um lugar construído por nós e devorados pelo tempo e completamente vencido pela mãe terra...E dessa vez o devaneio era necessário, então não peço perdão!... Como não somos de ferro, tivemos uma parada num café pequeno, suas cores eram bem chamativas, amarelo e preto, parecia até um lugar chique, todo moderno. Lá usei o banheiro, andar e beber água, faz a gente ter vontade de usar. Também comprei pequenos pães de queijo e uma soda de maçã verde, que acabei tomando todo o xarope do sabor, pois esqueci de mexer. Uma pena, parecia saboroso. Agora iríamos fazer a caminhada de volta ao ponto de encontro. Eu já estava cansada, meus pés estavam começando a doer, meu tênis é velho e não é muito bom para caminhadas longas, o bom que o dia não tinha sol, estava nublado e frio, e caminhar em tempos assim é bem melhor do que um sol quente em suas costas te socando e te deixando com dor de cabeça e mais cansada do que já está. Quando chegamos ao começo, antes de entrarmos no café Top, fomos surpreendidos por um morador de rua, que se encantou pelo nosso colega Renato e que contou um pouco de sua história, parece que já teve restaurante e que trabalhou como cobrador na rodoviária que estávamos. Bem nos despedimos dele e descemos a pequena rampa, para nos organizar e falar um pouco sobre a caminhada. Quando o Renato ia falar sobre o que iríamos fazer nas próximas aulas, o nosso amigo o morador de rua nos reencontra por lá. E foi então que o pessoal pagou uma coxinha e um suco para ele, que se emocionou e se despediu da gente novamente. E então o Renato pegou seu mapa, com as marcações e o caminho que fizemos e foi então que o grupo se admirou pelo tanto que andamos, nem parecia que era bastante, acho que por estarmos todos conversando e trocando ideias, que a caminhada se tornou mais leve. E a conclusão dessas andanças pela cidade é que a gente as vezes só percebe pequenos detalhes, quando andamos sem preocupações, quando possamos relaxar e não se envergonhar de fotografarmos os lugares. Também andei por lugares que nunca tinha ido e me fez refletir que tem muita coisa para explorar nessa cidade, talvez um dia tome uma coragem e saia novamente para lugares desconhecidos, para mais uma vez tirar muitas fotos que é um hobby adquirido esse ano e é um dos motivos que está me fazendo a voltar a viver."


Uma ilustração para representar a caminhada

A primeira atividade era andar bem devagar por
meia hora, porém eu não consegui
 e ai resolvi tirar foto

A segunda era fazer um texto, sobre no que você
estava pensando enquanto andava devagar

Umas da primeiras fotos que tirei na caminhada
e que foi um modelo para plantinha
no fim do meu texto

Minha primeira hora marcada.

Aqui já estávamos voltando ao ponto inicial

As linhas em vermelho foram aonde andamos

Esse foi o mapa que o Renato imprimiu

Aqui é o boneco do livro, um rascunho dele

Alguns rabiscos testando a assinatura

Minhas duas cópias

Minha ilustração com alguns pitacos do Renato

A plantinha singela no fim do texto

Aqui são as assinaturas do pessoal

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